Ex-funcionário do SuperPiá de Morro Reuter já havia denunciado irregularidades em 2012

Com a crise ainda visível na cooperativa Agropecuária Petrópolis Ltda, surgem novas revelações de denúncias antes já realizadas, onde faltou uma investigação mais aprofundada. No final de janeiro, um ex-funcionário do Supermercado Piá de Morro Reuter entrou em contato com a reportagem. 

Residente no mesmo município, o autor da ação prefere não se identificar. Ainda em 2012, após a sua demissão do supermercado, ele decidiu fazer uma denúncia ao Ministério Público da Comarca de Dois Irmãos, que abrange além do município-sede, os municípios de Santa Maria do Herval e Morro Reuter, onde teriam ocorrido os fatos. 

A denúncia foi feita, na época, ao promotor de justiça Wilson Luís Grezzana, então titular no Ministério Público de Dois Irmãos. Diversas práticas ilícitas foram detalhadas, onde funcionários do próprio supermercado teriam praticado corrupção interna ativamente. Conforme o denunciante, o MP na época não deu encaminhamento e a ação sequer chegou a ir ao Fórum. 

Com a profunda crise, e consequentes renúncias do ano passado, a nova diretoria da Piá optou em encerrar atividades de supermercados e agro-pecuárias, incluindo a própria unidade de Morro Reuter, que fechou em agosto do ano passado.

CONFIRA O TEXTO DA AÇÃO NO MP DE DOIS IRMÃOS AINDA EM 2012

 Venho por meio deste, denunciar práticas ilegais cometidas dentro da Cooperativa Agropecuária Ltda-Filial 8 situada na rua Monteiro Lobato, 68 Centro, Morro Reuter-RS inscrita sob o CNPJ 91.589.507/0008-54. O objetivo da denúncia é de coibir esse tipo de situação nesta e em outras filiais, pois se tratando de um modelo de empresa que possui milhares de associados, gera perdas a um grupo muito grande de pessoas, incluindo suas famílias.

Esclarecendo os fatos: Trabalhei na unidade supra referida de abril de 2009 á junho de 2012 na função de conferente em sua maior parte, também acumulei a função de fazer o inventário ou como chamam na empresa, “contagem de estoque”. Dentro dessa função descobri que reiteradamente faltavam vários itens no estoque, alguns muito específicos como leite e cerveja, chegando a faltar de 25 a 30 caixas de cada item por semana. Como era minha função conferir os produtos na entrada, eu era a pessoa mais “cobrada” quando faltavam muitos itens.

Na época então, resolvi começar uma investigação por conta própria e acabei por descobrir onde estavam acontecendo os “erros”. Na agropecuária os clientes, principalmente agricultores, faziam as encomendas de rações por telefone para serem entregues em suas propriedades, e para aproveitar o transporte, já encomendavam o leite e a cerveja também, já que os mesmos geram muito volume. O funcionário da agropecuária, A.S., registrava os produtos e estornava (cancelava) os cupons fiscais, ou seja, o produto fisicamente saía do estoque, mas no sistema do mercado constava que ele ainda estava em estoque. Tratando se, em sua maioria, de pessoas humildes e com pouca instrução, não reparavam na frase “cupom estornado” no final do documento e faziam o pagamento em espécie, dinheiro este que não retornava ao caixa do mercado, sendo usado em proveito próprio.

Nesse período, denunciei a pratica reiteradamente para a gerente da unidade, A.A., que, junto com seu chefe de loja, A.J.W., simplesmente nada fizeram para com o caso, levando a crer que eram coniventes com a situação ou agiam de conluio com o referido funcionário da agropecuária. Até meu pedido de demissão em junho de 2012, nada havia sido feito para resolver o problema.

Outra prática comum da empresa era ou é, o superfaturamento em licitações, principalmente no preço do pão francês, o preço de gôndola do referido produto era de R$ 6,99/Kg (seis reais e noventa e nove centavos o quilo) enquanto era licitado e entregue para as escolas municipais ao preço de R$ 15,00/Kg (Quinze reais o quilo), para burlar o sistema, no entanto, o pão era registrado no preço normal, mas na quantia, era registrado 2,14 vezes mais que o peso certo, para compensar o valor, isso no ano de 2011.

Como meu labor se deu única e exclusivamente dentro da unidade supramencionada, não posso afirmar se o mesmo acontecia e/ou acontece em todas as unidades, mas ao que parece é uma prática generalizada dentro da empresa como um todo e em todas as filiais, e sendo assim a meu ver, todas as unidades deveriam ser investigadas. Em fevereiro desse ano voltei a trabalhar nesta empresa e em maio a mesma gerente do período supra referido reassumiu o comando da filial e um dos seus primeiros atos foi me demitir, por saber que tenho experiência e veria qualquer situação ilícita que pudesse vir a acontecer. Diante do exposto, considerando que os fatos acima narrados caracterizam, em tese, crime de furto qualificado por abuso de confiança e crime de superfaturamento em licitações, requer-se ao Ministério Público que sejam tomadas as providências cabíveis.

M.K.

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