Padre Gilberto Mallmann fala da sucessão papal no Vaticano

Nesta semana, tendo em vista o falecimento do Papa Francisco I, o JNP abre espaço para a manifestação das lideranças católicas locais. Acompanhe as respostas do Padre Gilberto Mallmann, morador do Pinhal Alto, e que hoje atua na Paróquia São João Batista de Parobé; aos questionamentos feitos pelo JNP:

Como o senhor avalia o legado deixado pelo Papa Francisco para a Igreja e para o mundo?

Deus suscita pastores de acordo com as necessidades de cada tempo. Assim o é desde que Cristo confiou a Pedro as chaves do Reino dos céus, como aquele que, dentre os apóstolos teria o primado, governando e dirigindo o colégio apostólico. Papa Francisco já é o 266º Papa que senta na cátedra petrina, como legitimo e autêntico sucessor de Pedro.

Papa Francisco, a exemplo de seus predecessores, marcou muito mais do que apenas os católicos, aos quais eles se dirige, primeiríssimamente e necessariamente, como Vigário de Cristo. Mas, com seu jeito latino-americano, sendo também, o primeiro papa jesuíta da história, trouxe o rosto de Deus de modo acessível e alcancável para todos os povos, línguas e credos. Diz-se que Papa Francisco foi um papa muito humano, muito carismático, muito espontâneo. A bem da verdade, esta deve ser uma prerrogativa papal: manifestar o rosto de Deus para as nações.

Dentre os temas mais frequentes do pontificado de Francisco, já antevisto na escolha de seu nome de papa, está na sua visão de uma Igreja que evidencie sua identidade como mãe misericordiosa, inclusiva e atenta aos desafios contemporâneos. Sem negar a fé e doutrina da Igreja, a qual o Papa deve salvaguardar, como temas polêmicos como a homossexualidade, políticas públicas, ecologia, aborto e eutanásia, o Papa, em seus documentos e encíclicas, governou com acessibilidade, com entusiasmo, próprios de um papa latino.

Para ler mais sobre seu legado, conhecer sua história e influencias, sugiro a leitura deste artigo: https://bibliotecacatolica.com.br/blog/formacao/papa-francisco/

Qual foi a reação da comunidade católica local diante da notícia do falecimento do Papa?

Sabíamos, todos, que o Papa estava bastante debilitado em virtude de sua idade e complicações de saúde. Sobretudo, no último mês, em que, internado, foi pouco visto. Neste mês de convalescência do Papa, muitas orações foram feitas pela sua recuperação, tanto em nossas paróquias, como no Vaticano. Sabíamos, em tempo real, da situação de saúde de Francisco. Suas melhoras e recaídas. Com a alta, ficamos aliviados, e esperançosos de sua melhora, ainda que acompanhando as notícias que informavam sua situação de saúde. Porém, não há como manifestar muita surpresa na noticia de sua morte. Fomos pegos desprevenidos, pois, no domingo de Páscoa, vivendo a alegria do ressuscitado, a comunidade mundial o viu dar a tradicional benção Urbe et Orbe. Como ele faleceu em seu aposento, na manhã da Segunda-feira da oitava pascal, em geral, muitos não conseguiram sequer acreditar no ocorrido.

Quais são os principais rituais e tradições que a Igreja segue após a morte de um papa?

Cremos na vida eterna! Este é um dos artigos da fé católica. Providencialmente, estamos vivendo estes dias de dor e luto pela perda do chefe da Igreja dentro a esperança da Ressurreição. Era esse, acredito, o desejo do Papa Francisco, dentro, ainda do jubileu, ano santo que vivemos, onde estamos meditando o tema “Peregrinos de esperança”

Sendo essa nossa fé, um funeral, seja ele qual for, deve seguir ritos que evidenciem o caráter sacro do momento. Em seu tratando não somente de um Bispo, o bispo de Roma, legitimo sucessor de São Pedro, chefe da Igreja Universal, sendo este, além de tudo, chefe de estado, existem protocolos milenares que são seguidos, e que, é verdade, passaram por revisões nas últimas décadas, mas que, em geral seguem um ritual belíssimo e de profundidade ímpar.

No documento Ordo Exsequiarum Romani Pontificis, estão previstas três estações para o rito de sepultamento do Santo Padre, dispostas em três capítulos:

Cap. I: Primeira estação: na casa do Pontífice defunto.

Nesta estação, ocorrem 3 momentos: Constatação da morte (Constatazione della morte); Exposição do corpo (Esposizione della salma); e Celebração e orações (Celebrazioni e preghiere).

· É aqui que ocorre o rito belo de chamar o Papa por seu nome de batismo por 3 vezes, se quebra o anel pontifício, para indicar o fim do pontificado, e se prepara o corpo com as vestes papais.

Cap. II: Segunda estação: na Basílica Vaticana.

Nesta estação, ocorrem mais três importantes momentos: Translado do Sumo Pontífice para a Basílica Vaticana (Traslazione della salma del Sommo Pontefice nella Basilica Vaticana); Celebrações e orações (Celebrazioni e preghiere); e Missa de exéquias (Messa Esequiale).

Cap. III: Terceira estação: no local do sepultamento.4

Ao terminar a missa de exéquias, passa-se à terceira estação, composta por dois momentos: Procissão ou Translado do féretro ao local da sepultura (Processione) e Sepultamento do corpo do Sumo Pontífice (Tumulazione della salma del Sommo Pontefice defunto).

· embora a Basílica de São Pedro tenha sido o local tradicional de sepultamento dos papas, as novas normas permitem o sepultamento em outros locais. O Papa Francisco, por exemplo, expressou o desejo de ser sepultado na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma.

Após o funeral, seguem-se nove dias de luto, e de missas de sufrágio pela alma do Papa, em toda a Igreja.

Para entender de modo mais detalhado os rituais, sugiro a leitura deste artigo: https://bibliotecacatolica.com.br/blog/formacao/funeral-de-um-papa/

Durante o período de “Sede Vacante”, como funciona a administração da Igreja?

A administração dos bens temporais da Igreja está nas mãos do Cardeal Camerlengo, que é encarregado de destruir o Anel do Pescador e os selos papais a fim de que não seja expedido nenhum documento em nome do Pontífice anterior. Os aposentos papais são selados enquanto transcorre a eleição. O Camerlengo dirige as tarefas cotidianas do Palácio Apostólico, Palácio Lateranense e Castel Gandolfo.

Neste período de Sé Vacante, nada de substancial pode ser decidido pelos cardeais. Somente assuntos inadiáveis e manutenção do que já está decidido. Os cardeais devem, porém, se ater às exéquias do Papa falecido, bem como na preparação do conclave.

Quem são os cardeais responsáveis por eleger o novo papa e como é conduzido o conclave?

“Habemus Papam”: essa é a famosa frase que percorre o mundo e anuncia o eleito para ocupar a Cátedra de São Pedro, unida à já conhecida fumaça branca nas chaminés do Vaticano.

Conclave vem do termo “cum clave” (com chaves), para indicar de que a eleição de um novo papa é feita de modo absolutamente sigiloso. A assembleia de cardeais reúne-se com total sigilo e isolamento. Cardeais vindos do mundo inteiro integram o total de 120 votantes para a escolha do novo Vigário de Cristo. Esses 120 cardeais

Para ser eleito, o escolhido precisa receber dois terços do total de 120 votos, sendo que nenhum cardeal pode se abster do voto, nem votar em si mesmo. Quanto às rodadas de votação, estas ocorrem quatro vezes ao dia: duas votações matutinas e duas vespertinas.

Quando o requisito da maioria de votos não é alcançado, os papéis são queimados com produtos químicos que convertem a fumaça na cor negra, indicando ao mundo exterior que a eleição prossegue, ainda sem resultado final.

Caso não haja um eleito depois de três dias, a votação é suspensa por um dia para oração, discussão e exortação espiritual. Há então mais sete votações, e mais uma pausa com o mesmo intuito. Isso pode acontecer por mais duas vezes. Caso não haja solução, os cardeais podem decidir se a próxima eleição será decidida por maioria absoluta, ou uma espécie de “segundo turno”, em que os dois que receberam mais votos na votação anterior podem ser escolhidos por maioria absoluta.

Passadas as etapas estabelecidas, e tendo um eleito final, o cardeal de mais idade pede o consentimento do eleito: “Aceita a sua eleição canônica como Sumo Pontífice?”. Em caso afirmativo, os papéis são queimados com produtos que convertem a fumaça na cor branca, como anúncio da escolha definitiva ao mundo externo, acompanhada dos sinos da Basílica de São Pedro.

O sucessor eleito, então, dirige-se a uma pequena sala contígua onde o esperam as vestes papais. Esta sala especial costuma ser chamada de “Sala das Lágrimas”, já que, conforme a tradição, todos os eleitos choram ali, diante da magnitude da missão que acabam de assumir: apascentar o rebanho de Nosso Senhor Jesus Cristo.

O novo Papa coloca as vestes, escolhe seu nome pontifício e é apresentado ao mundo inteiro com a fórmula tão conhecida:

Anuncio-vos uma grande alegria;

Temos um Papa;

O eminentíssimo e reverendíssimo Senhor,

Dom (nome em latim).

Cardeal da Santa Romana Igreja

(sobrenome no idioma original).

Que se impôs o nome de (nome papal em latim).

· Os cardeais, para participarem do conclave, não podem ter completado 80 anos. Tecnicamente, qualquer homem batizado em comunhão com a Igreja pode ser eleito Papa (terá que ser ordenado Bispo, caso não o seja ainda). Porém, há séculos, a tradição é eleger um para dentre os cardeais da Igreja.

Para ler mais: https://bibliotecacatolica.com.br/blog/formacao/como-e-escolhido-um-papa/?utm_source=google&utm_medium=cpc&utm_campaign=AQ+|+PMAX+|+COLD+|+Biblia&campaign_id=21847072998&adgroup_id=&ad_id=&gad_source=1&gbraid=0AAAAADDeeUGsoDcQfR-XenkDrAwOsdWPI&gclid=Cj0KCQjw_JzABhC2ARIsAPe3ynp8AiM18EIEjBP8P5-yfwSsj21VFIcdJfseUYNuwWYU4AqcsXI_IjAaAiiNEALw_wcB

Há expectativas ou esperanças específicas em relação ao perfil do próximo papa?

De que maneira os fiéis podem viver este momento de luto e oração em comunhão com a Igreja?

(As duas na mesma resposta)

Primeiramente: fugir das especulações midiáticas, conspirações, apostas e etc. Estamos vivendo um momento de luto, ainda. Devemos focar nossa atenção em rezar pelo descanso do Papa Francisco, e reafirmar nossa certeza de que Deus (e é Ele, só Ele) ira nos conceder um Pastor segundo Seu Sagrado Coração para governar e conduzir a Igreja. Mas, antes de vivermos o conclave, devemos viver o sepultamento do Papa até pouco tempo vigente. Longe de especular sobre progressistas e conservadores, é ter a clareza da assistência do Espírito Santo, que jamais abandonou a Igreja fundada por Jesus Cristo. Depois de vividos esses dias de luto, devemos nos unir à Igreja em oração, para que seja eleito, o quanto antes, um Papa segundo a vontade de Deus, e que conduza ao céu os seus fiéis, da fidelidade à doutrina e na força que esses tempos exigem de um vigário de Cristo.

Oração para período de sede Vacante:

Suplicamos, ó Deus, com humildade: que vossa imensa piedade conceda à Sacrossanta Igreja Romana um Pontífice; que por seu zelo por nós, possa ser agradável a Vós, que seja assíduo no Governo da Igreja para a glória e reverência do Vosso nome. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na Unidade do Espírito Santo, Deus, por todos os séculos dos séculos. Amém.

Que mensagem o senhor deixaria aos católicos neste tempo de transição e renovação na liderança da Igreja?

Crer na Igreja que Cristo fundou. Jesus confiou as chaves à São Pedro, que foi o primeiro papa, e, após ele, 265 homens sentaram na mesma cátedra. Homens, que, como São Pedro, possuíam suas limitações, suas visões de mundo diversas, mas, no quesito Escritura e Tradição, a fé que Jesus nos deixou como testamento, foram homens que defenderam e consumiram as suas vidas pela causa do Reino de Deus. Como bem falado, é tempo de transição, tempo de renovação, sobretudo de nossa fé, nesta Igreja que professamos e que cremos, sacramento universal de salvação. Somos papistas, rezamos pelo sucessor de Pedro, para que ele nos conduza, sempre, a Jesus.

Envie uma Mensagem

Um email será enviado para o proprietário

Áreas de Cobertura

Nova Petrópolis e Picada Café

Entre em Contato